Ticktack drogado
Fernando L.S. Martins
me deixa e busca mais um dos seus comprimidos
conduz toda a cena com a bunda pequena e sonolenta
cansada do movimento capcioso dos lençois em frêmitos
minha hipocondríaca, rainha tarja preta da minha punheta
valsando o vazio do quarto, atritando sobre o chão pálido
passo por passo até mais um de seus pulsos industrializados
cabe mais um cálido gemido na cena, um sorriso viciado
atando delirantes mãos em um copo suado de uísque barato
pico e sonho em um gole maleável, feito de sede
cede espaço a lisergia e volta com meus trocados
o corpo drogado convulsionando por caricias
agora do meu lado, postada pálida, cadavérica
os olhos alagados em veias manchas
a pele quente, clamante, contra meu corpo obediente
o jeito capcioso de me chamar sobre o próprio corpo
me faz como ontem, me trata como antes e age como amante
corrida contra um ponteiro mortuário que avisa estralado
que o mundo dela precisa de uma última sensação,
desse futuro passado
não existe bom dia depois de hoje, só obrigado e boa viagem
acordar, a partir de agora, é um luxo doado
Um comentário:
Muito bom, continue assim
Postar um comentário