Pescador de verso
Fernando L.S. Martins
Navego as almofadas do sofá em busca dos teus vestígios
Nado os lençóis e cobertores da minha cama atrás do teu cheiro
Rego meus sonhos com as lembranças do teu riso
E ainda sinto teus carinhos suaves na minha cabeça
Tuas mãos que aram meus planos de acordar bem
Lembro que não segurei te segurei como deveria
Nem te abracei o mais forte que meus braços podiam
Teus lábios merecem mais dos meus, mais teu nome
Corro da cozinha até a sala, de quarto em quarto
Cômodo em cômodo atrás da tua última presença
Que teus pés tocaram toda essa casa
Tuas mãos e todas as minhas coisas
A cor da tua pele na íris dos meus olhos
Lembro que não escrevia mais os poemas de amor
Nem abria meus livros de versos tolos de lágrimas silenciosas
Muito menos epifanias dessas frases difusas
Agora, só agora, bebo tuas cores e tua voz
No translucido copo cru, na rua perto da tua antiga casa
Na calçada que em que sento e te espero, e espero
Aparece na sacada, eu imploro, no mesmo lugar
E me beija de longe uma última vez, mesmo que ao ar
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