terça-feira, 13 de maio de 2014

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Nathalia Vieira
Ela chega
Ele sorri
Eles se beijam


Eu aumento o som da música
Tento ler outras coisas
Penso em você


Ela vai embora
Ele o acompanha
Eles se amam


Eu abaixo o volume da música
Paro de ler
Penso em você
Fico sozinha


"

sexta-feira, 9 de maio de 2014

calafrio


calafrio
Lucas Selau

esse calafrio, há pouco
dizia minha avó: oh! um anjo
esse tremor escalando como um raio
a minha coluna
e já a altura
da minha nuca
vira estática e cabelos
e um suspiro tímido do desconhecido

dizia meu pai: um fantasma passou por mim, agorinha
e espanava os ombros com ambas as mãos
deitando os pelos ouriçados pelo mistério
do antebraço
pelo cotovelo
até os ombros
um gramado de sensações
e os pés inquietos pela tempestade na epiderme

já eu, meus lençóis e eu
não digo nada, permaneço silêncio
cogitando entender minhas frequências
meu corpo dormitado
tentando sincronismos
com minha cabeça inflada
depois da catarse, dos golpes do sonho
o indivíduo em mim reconsidera o estranho

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Enluarada

Enluarada


Ao cair da tarde, bem no finzinho da luz, eu nasci!
Todos me apreciam e sempre à mesma hora todos me aguardam; tão ansiosos
Muitos não puderam estar lá por seus motivos inferiores
Eu vim, e meu esplendor e fascinação se afinaram na garganta dos poetas amantes
Uma viola preguiçosa espalhava uma harmonia espanhola pelo ar negro e prata
Eram uns dedos morenos que titilavam as cordas com esmero e sem pressa

O tempo parou...

Uma coruja pia na cumeeira em desacordo com aquela harmonia
Lá em cima, na mata, a onça nem pensa, só me aprecia com olhos largos de gato
Numa ladeira estreita, um bêbado se equilibra irreverente a me saudar
Na areia lá em baixo, um corpo nu dança sob a luz que não é minha
Eu toco suavemente aquela pele e um sorriso de luz negra se abre, passivo e largo
Nas curvas e coxilhas da moça, eu também danço prisioneira e cândida

Num canto da praça um rapaz observa, carrancudo e só
“Quanta besteira !” pensa ele, enquanto devaneia a fragilidade da vida
Num bar, os alegres ébrios arriscam suas rimas irresponsáveis
Uma brisa vadia espreguiça-se envolvendo a tudo
Em alguma janela um olho me vê, para e suspira um suspiro lento e longo
Em outra, eu espreito e ilumino os amantes em ato secreto e impuro

Um braço duro cata restos e empurra o carro de sucatas pelos becos e ruas
Vez ou outra me olha e mareja o olhar encardido, sofrido e saudoso
Um vira-lata faceiro troteia a esmo pelas calçadas procurando ...
O carrancudo da praça resmunga algo ininteligível e se vai, antes me lançando um olhar firme
Alguma sirene quebra o silêncio de vez em quando
Enquanto você dorme, eu brilho, encanto, fascino e inspiro

O tempo voou...
A noite não viu...

As buzinas e motores brotam no fim da madrugada
É minha deixa! Hora de eu me recolher e de você acordar
A luz logo virá e irá alterar tudo isto e tudo, tudo será diferente
Mas no fim da luz eu retorno, para ver e encher tudo e todos outra vez
Mágica e provocante acordarei todos os sentidos, os de fora e os de dentro
Dos mais fúteis até os mais intensos e profundos, ainda que escondidos

Este insignificante, mas fiel escritor estará lá de alguma forma
Escolhi-o para falar a você por ser ele submisso e encantado comigo
Como um amante controverso, ele até já abusou de meu lado escuro
Várias vezes!
Como ele, muitos outros estarão lá dedicados e submissos
Irremediavelmente submetidos a minha magia cor de prata
Eu me chamo Lua e vou estar lá cheia, mágica, envolvente...
E você, onde vai estar?

quarta-feira, 23 de abril de 2014

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fernando l.s. martins

ele me perguntou sobre amor
era só uma criança
sentado com os pés longe da terra, vão e vem
e eu não soube como responder

ele foi mais especifico:
“o senhor já amou?”
enquanto os pés
vão e vem

“já” – foi o que eu disse e
em seguida ele pediu mais:
“era ela ou ele?” – eu ri

“ela era linda. era como uma tempestade...”

“eu tenho medo de temporal” – ele replicou
vão e vem
“eu também” – respondi

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Por isso, obrigado

...}Por isso, obrigado
Jonathan Rech

Andava sozinho
Triste e abalado
Em busca de carinho
E um amor dourado

Sofrer é inevitável
Fugir é lamentável
Enfrentar é admirável
E amar, bom, é louvável

Assim que te conheci,
Gradativamente, ascendi {...
E se perguntares:
"Por que amas a mim?"
Digo-te o porquê, minha jasmim
Pois de um mundo onde tudo era cinza, mostraste-me todas as cores{...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Koan #01


As mãos vazias de mestre Koan, raios chorosos orquestrando Bach #01

Porque estávamos a salvo, tudo era diferente, vago de memória, e esperanças, corrupções de nós mesmos findados aos raios e domingos.
Meus ouvidos em socorro, escutado alento que é chuva silenciosa, prosa da sina de gostar de solidão.
Alojado num pedaço de estrutura rítmica, soada a suaves dissonares ‘entreruídos’ da rua, a melodia cólica ‘vulcionante’, eloquente, ‘eteceteras’ ...
Eu era afinal, o passado suspenso em mais calma –  eu em meu quarto de sono e luz, forte clarão;
eu era afinal trastejado em mil cordas – solucionável em acordes jovens, trepidantes e escalados;
eu era em final, quase a vida inteira, querendo as maneiras outras que não se encachavam – eram tão distintas e jogadas aos dias, minha voz falha e literatura;
quem dera eu vociferando contra o asfalto e suplicando mais trilhas – as direções seguidas de trincheiras, quanto aos rastros: dispostos em vazios vãos de existências, minha lucidez e loucura...

Um dia se foram, não havia razão em voga que dissolvesse meus tesouros estimados, minha lucidez e loucura... mãos dadas e tão longe, minha lucidez e loucura... quase não as vejo mais, minha lucidez...

“Pelo vão da porta vagamos silenciosamente. Luz. O céu. Clarão dos raios. Dia e noite, e calafrio, e vento contra a espinha. Por baixo. De soslaio. A Porta. Com a luz, o vento frio e arbitrário. Sou um... paredes que eu tanto amo. Dai-me pontos.”

Porque estávamos a salvo, tudo era diferente, vago de memória, minha lucidez e loucura, meu vagão vazio descarrilhando em baixos suspiros. Que se foi o ritmo. Que se foi a música em a que se destinavam meus reis e rainhas, meus castelos em linhas. Adeus, breve e doce, lucidez minha e loucura...


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Endossado


Endossado
Lucas Selau

Faz algum tempo que não recebo ajuda do meu cérebro. Não há sinapse. Informação alguma para o corpo. Então vegeto sobre a imagem. Caduco sobre o quadro que fora pintado antes. Quando ainda controlava os membros, azul e vermelho, misturaram-se, pernas e braços. Podre de mim, eu pensaria, mas não há cérebro.
          Pode ser que tenha algo a ver com a temperatura da sala. As janelas fechadas há horas e mais horas seguidas dessa música infernal. Por isso o cérebro se recusa. Ele suspira. A luz do dia negada. A rara água dedicada à deserta língua. Deserta em palavras, da introspecção de mim.
                Ainda sim cravado do meu sorriso. Irônico eu. Da minha desgraça a minha graça, minha sabedoria mundana. O que é tão engraçado na mistura ébria das cores na tela? Há quantos relógios daqui viverá minha experiência, afinal, as doses de flashes me desafiam a destilar sensações distintas... Com isso a revolta das conclusões. Navegando, súditas, minha cabeça. A confusão do que seria a realidade enfim.
                No começo tinha a tela por completo em mãos. Vi o primeiro choque entre tecido e tinta. Vi último beijo entre detalhe e pintor... Quiçá, eu destilando as mil cores em um só tom. Mas cansava, e a cada piscada me misturava em incertezas: de como seria dado aquele toque, ou qual a cor dos lábios da persona. Não tivera a certeza na hora certa, e talvez por isso, agora afogo em inanimado.
                Pois era manhã quando a porta, aberta por alguém ou abrindo com uma lufada de vento, soslaiou lucidez. Transcorreu um tremor em meus músculos. Arrepios. Foi quando minha mão se fechou, retesada contra pincel e tinta seca. O sorriso, tatuado, apagando-se aos poucos. Meu corpo podendo ficar sentado. Minha cabeça eletrocutando novamente minhas ações, pouco a pouco. E meus olhos...
                Os fechei alguns instantes. Um momento. Segundos, eu creio. Misturei sal sob pálpebra e deixei tudo acalmar no mar em íris. Não aguentava lembrar o silêncio da noite. Nem lembrar a penumbra e a imagem pintada. Nem a respiração e as sensações distintas em tantos níveis aleatórios. Só descansei minha visão.
                Abri-os, tanto olhos quanto sorriso. Meu quarto escuro. Minhas mãos limpas. Meus pinceis intactos, Meu quadro branco.