Fecha Parênteses
o caralho a quatro
sexta-feira, 9 de maio de 2014
calafrio
calafrio
Lucas Selau
esse calafrio, há
pouco
dizia minha avó: oh!
um anjo
esse tremor escalando
como um raio
a minha coluna
e já a altura
da minha nuca
vira estática e
cabelos
e um suspiro tímido do
desconhecido
dizia meu pai: um
fantasma passou por mim, agorinha
e espanava os ombros
com ambas as mãos
deitando os pelos
ouriçados pelo mistério
do antebraço
pelo cotovelo
até os ombros
um gramado de
sensações
e os pés inquietos
pela tempestade na epiderme
já eu, meus lençóis e
eu
não digo nada,
permaneço silêncio
cogitando entender
minhas frequências
meu corpo dormitado
tentando sincronismos
com minha cabeça
inflada
depois da catarse, dos
golpes do sonho
o indivíduo em mim
reconsidera o estranho
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Enluarada
Enluarada
Ao cair da tarde, bem no finzinho da luz, eu nasci!
Todos me apreciam e sempre à mesma hora todos me aguardam;
tão ansiosos
Muitos não puderam estar lá por seus motivos inferiores
Eu vim, e meu esplendor e fascinação se afinaram na garganta
dos poetas amantes
Uma viola preguiçosa espalhava uma harmonia espanhola pelo
ar negro e prata
Eram uns dedos morenos que titilavam as cordas com esmero e
sem pressa
O tempo parou...
Uma coruja pia na cumeeira em desacordo com aquela harmonia
Lá em cima, na mata, a onça nem pensa, só me aprecia com
olhos largos de gato
Numa ladeira estreita, um bêbado se equilibra irreverente a
me saudar
Na areia lá em baixo, um corpo nu dança sob a luz que não é
minha
Eu toco suavemente aquela pele e um sorriso de luz negra se
abre, passivo e largo
Nas curvas e coxilhas da moça, eu também danço prisioneira e
cândida
Num canto da praça um rapaz observa, carrancudo e só
“Quanta besteira !” pensa ele, enquanto devaneia a
fragilidade da vida
Num bar, os alegres ébrios arriscam suas rimas
irresponsáveis
Uma brisa vadia espreguiça-se envolvendo a tudo
Em alguma janela um olho me vê, para e suspira um suspiro
lento e longo
Em outra, eu espreito e ilumino os amantes em ato secreto e
impuro
Um braço duro cata restos e empurra o carro de sucatas pelos
becos e ruas
Vez ou outra me olha e mareja o olhar encardido, sofrido e
saudoso
Um vira-lata faceiro troteia a esmo pelas calçadas
procurando ...
O carrancudo da praça resmunga algo ininteligível e se vai,
antes me lançando um olhar firme
Alguma sirene quebra o silêncio de vez em quando
Enquanto você dorme, eu brilho, encanto, fascino e inspiro
O tempo voou...
A noite não viu...
As buzinas e motores brotam no fim da madrugada
É minha deixa! Hora de eu me recolher e de você acordar
A luz logo virá e irá alterar tudo isto e tudo, tudo será
diferente
Mas no fim da luz eu retorno, para ver e encher tudo e todos
outra vez
Mágica e provocante acordarei todos os sentidos, os de fora
e os de dentro
Dos mais fúteis até os mais intensos e profundos, ainda que
escondidos
Este insignificante, mas fiel escritor estará lá de alguma
forma
Escolhi-o para falar a você por ser ele submisso e encantado
comigo
Como um amante controverso, ele até já abusou de meu lado
escuro
Várias vezes!
Como ele, muitos outros estarão lá dedicados e submissos
Irremediavelmente submetidos a minha magia cor de prata
Eu me chamo Lua e vou estar lá cheia, mágica, envolvente...
E você, onde vai estar?quarta-feira, 23 de abril de 2014
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fernando l.s. martins
fernando l.s. martins
ele me perguntou sobre
amor
era só uma criança
sentado com os pés
longe da terra, vão e vem
e eu não soube como
responder
ele foi mais
especifico:
“o senhor já amou?”
enquanto os pés
vão e vem
“já” – foi o que eu
disse e
em seguida ele pediu
mais:
“era ela ou ele?” – eu
ri
“ela era linda. era
como uma tempestade...”
“eu tenho medo de
temporal” – ele replicou
vão e vem
“eu também” – respondi
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Por isso, obrigado
...}Por isso, obrigado
Jonathan Rech
Andava sozinho
Triste e abalado
Em busca de carinho
E um amor dourado
Sofrer é inevitável
Fugir é lamentável
Enfrentar é admirável
E amar, bom, é louvável
Assim que te conheci,
Gradativamente, ascendi {...
E se perguntares:
"Por que amas a mim?"
Digo-te o porquê, minha jasmim
Pois de um mundo onde tudo era cinza, mostraste-me todas as cores{...
Jonathan Rech
Andava sozinho
Triste e abalado
Em busca de carinho
E um amor dourado
Sofrer é inevitável
Fugir é lamentável
Enfrentar é admirável
E amar, bom, é louvável
Assim que te conheci,
Gradativamente, ascendi {...
E se perguntares:
"Por que amas a mim?"
Digo-te o porquê, minha jasmim
Pois de um mundo onde tudo era cinza, mostraste-me todas as cores{...
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Koan #01
As mãos vazias de mestre Koan, raios chorosos
orquestrando Bach #01
Porque estávamos a salvo, tudo era diferente, vago de
memória, e esperanças, corrupções de nós mesmos findados aos raios e domingos.
Meus ouvidos em socorro, escutado alento que é chuva
silenciosa, prosa da sina de gostar de solidão.
Alojado num pedaço de estrutura rítmica, soada a suaves
dissonares ‘entreruídos’ da rua, a melodia cólica ‘vulcionante’, eloquente, ‘eteceteras’
...
Eu era afinal, o passado suspenso
em mais calma – eu em meu quarto de sono
e luz, forte clarão;
eu era
afinal trastejado em mil cordas – solucionável em acordes jovens, trepidantes e
escalados;
eu era em final, quase a
vida inteira, querendo as maneiras outras que não se encachavam – eram tão
distintas e jogadas aos dias, minha voz falha e literatura;
quem dera
eu vociferando contra o asfalto e suplicando mais trilhas – as direções
seguidas de trincheiras, quanto aos rastros: dispostos em vazios vãos de existências,
minha lucidez e loucura...
Um dia se foram, não havia razão em voga que dissolvesse meus
tesouros estimados, minha lucidez e loucura... mãos dadas e tão longe, minha
lucidez e loucura... quase não as vejo mais, minha lucidez...
“Pelo vão da porta
vagamos silenciosamente. Luz. O céu. Clarão dos raios. Dia e noite, e calafrio,
e vento contra a espinha. Por baixo. De soslaio. A Porta. Com a luz, o vento
frio e arbitrário. Sou um... paredes que eu tanto amo. Dai-me pontos.”
Porque estávamos a salvo, tudo era diferente, vago de
memória, minha lucidez e loucura, meu vagão vazio descarrilhando em baixos
suspiros. Que se foi o ritmo. Que se foi a música em a que se destinavam meus
reis e rainhas, meus castelos em linhas. Adeus, breve e doce, lucidez minha e
loucura...
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Endossado
Endossado
Lucas Selau
Faz algum tempo que não recebo ajuda do meu cérebro. Não há sinapse. Informação alguma
para o corpo. Então vegeto sobre a imagem. Caduco sobre o quadro que fora
pintado antes. Quando ainda controlava os membros, azul e vermelho,
misturaram-se, pernas e braços. Podre de mim, eu pensaria, mas não há cérebro.
Pode
ser que tenha algo a ver com a temperatura da sala. As janelas fechadas há
horas e mais horas seguidas dessa música infernal. Por isso o cérebro se
recusa. Ele suspira. A luz do dia negada. A rara água dedicada à deserta
língua. Deserta em palavras, da introspecção de mim.
Ainda
sim cravado do meu sorriso. Irônico eu. Da minha desgraça a minha graça, minha
sabedoria mundana. O que é tão engraçado na mistura ébria das cores na tela? Há
quantos relógios daqui viverá minha experiência, afinal, as doses de flashes me
desafiam a destilar sensações distintas... Com isso a revolta das conclusões.
Navegando, súditas, minha cabeça. A confusão do que seria a realidade enfim.
No
começo tinha a tela por completo em mãos. Vi o primeiro choque entre tecido e
tinta. Vi último beijo entre detalhe e pintor... Quiçá, eu destilando as mil
cores em um só tom. Mas cansava, e a cada piscada me misturava em incertezas:
de como seria dado aquele toque, ou qual a cor dos lábios da persona. Não
tivera a certeza na hora certa, e talvez por isso, agora afogo em inanimado.
Pois
era manhã quando a porta, aberta por alguém ou abrindo com uma lufada de vento,
soslaiou lucidez. Transcorreu um tremor em meus músculos. Arrepios. Foi quando
minha mão se fechou, retesada contra pincel e tinta seca. O sorriso, tatuado,
apagando-se aos poucos. Meu corpo podendo ficar sentado. Minha cabeça
eletrocutando novamente minhas ações, pouco a pouco. E meus olhos...
Os
fechei alguns instantes. Um momento. Segundos, eu creio. Misturei sal sob
pálpebra e deixei tudo acalmar no mar em íris. Não aguentava lembrar o silêncio
da noite. Nem lembrar a penumbra e a imagem pintada. Nem a respiração e as
sensações distintas em tantos níveis aleatórios. Só descansei minha visão.
Abri-os,
tanto olhos quanto sorriso. Meu quarto escuro. Minhas mãos limpas. Meus pinceis
intactos, Meu quadro branco.
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